terça-feira, 27 de outubro de 2009

Um conto e infinitas possibilidades

E lá estava ela. Sozinha no parapeito da janela, seus grandes olhos negros em constante vigília. "Ele não vem", pensou a pequena. O suor escorria pela pele branca da menina, mas sua determinação a mantinha imóvel...com o olhar fixo e perdido. As horas se passaram e somente quando suas pestanas já estavam com um peso fora do comum é que a garotinha se deixou recostar no vidro da janela.
"Morgana? Acorde meu anjo!" O ressoar daquela voz sempre provocava uma sensação de bem estar que a pequena Morgana não sabia explicar, entretanto, essa sensação não tinha a mesma completude de outrora. Seus olhos se abriram aos poucos enquanto Lílian massageava a bochecha da filha, cheia de marcas da noite mal dormida. "Ele veio mamãe?", foi a primeira coisa que a garotinha conseguiu falar naquele momento ainda meio entorpecido, e Lílian, que não conseguia mentir para a filha, fitou os olhos de Morgana e lembrou da primeira vez que os viu, "Um mistério angelical", foi o que pensou naquele dia. "Mamãe?" Ainda perdida em seus devaneios, Lílian virou-se para filha falou algo relativo à impossibilidade da visita, mas ela sabia que a pequena a enxergava por dentro, e não conseguia conter isso.

P.S.: Agora passo a responsabilidade de dar continuidade a esse conto ao meu amigo Gutemberg, que acredito ser plenamente capaz de conduzi-lo perfeitamente. A você Gutor, deixo a vez para repassá-lo a outra pessoa e manter esse processo de construção. Para quem não o conhece, visite o blog "Flores Mortas", que está na lista de amigos que costumo visitar.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

"Viva a música"

A companhia de pessoas que se ama, a mistura de sabores, o cheiro de terra molhada, a água fria que nos lavou a alma naquele dia...todas as lembranças se unem em harmonia ao som do inesquecível Raul que buscou dentro de cada um aquilo que mais se prezava na vida. Uma voz gritou "Viva o amor!", e a partir de então pensei, "Qual o melhor substituto?"...a música, que sempre vai estar em qualquer momento da minha vida. Do amor ao ódio, da solidão aos momentos com os amigos, da felicidade ao desespero...e foi isso que gritei, "Viva a música!!", porque ela é o que mais prezo na vida, é a junção de tudo o que vivencio e que por isso sempre me lembra que sou uma simples mortal em busca do Nirvana enquanto houver tempo. Em seguida outra voz ressoou "Viva a poesia, caralho!" e pensei, "concordo", pois a música é a poesia melódica que também me influencia quando a sinto. O som daquela poesia sobre uma sociedade alternativa terminou com o último brinde, "Viva a amizade!"...afinal, era realmente por tudo isso que estávamos ali, e a amizade era o que nos moveu para aquele momento.

domingo, 11 de outubro de 2009

A ampulheta


Há dois lados diferentes.
Os mesmos grãos passam de um para outro como um fluxo contínuo e interminável.
E apesar de serem polaridades diferentes,
esses mesmos grãos representam o minuto que se foi e o que está por vir,
comprovando que as polaridades
                                           opostas,
                                           compartilham da mesma energia.
                                           Em simples frações de segundo.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Um libertino na igreja

Ele chegou do nada, com palavras a esmo, e os pensamentos perdidos em devaneios que não se pode supor. Seu atraso não foi surpresa para os presentes, entretanto, a declaração "Eu vim da igreja" me causou um certo espanto. É interessante pensar como somos feitos de conceitos e elementos, mas, o mais interessante é pensar a possibilidade da libertinagem e a religiosidade estarem integradas na mesma pessoa.

Ele estava aéreo e isolado, o que me fez pensar que ele ainda trazia algo que o movia diferentemente naquele dia, e que possivelmente resultava daquela experiência que ele havia relatado. Apesar da indiferença que tinha quando falou "Eu simplesmente entrei", seu self não estava presente conosco naquele momento, sendo essa indiferença ligada exatamente à ausência, ao invés da experiência, como a maioria imaginou.

Ele chegou de fato. Ou pelo menos quem eu acho que seja ele. Mas isso demorou pra acontecer, e logo as conversas normais surgiram no caminho enquanto andávamos, mas eu não havia esquecido do libertino de questionamentos insaciáveis sobre psicologia, que naquele dia em especial, tinha ido à igreja.