Aquela luz que me cegava remetia a algo que já passei. Aquele som me pareceu familiar, como se tivesse feito parte da minha existência. As companhias, mesmo com algumas alterações, também me fizeram lembrar de um tempo que me parece distante. Me faltou a embriaguez, mas talvez tenha sido melhor assim, pois não teria sido possível trazer tantas lembranças à tona com a cabeça em devaneios vendo o mundo girar. A rouquidão do fim da noite também não era uma novidade pra esse tipo de ocasião, mas me proporcionou uma alegria infantil de quem experimenta algo pela primeira vez.
A partir do momento que comecei a me enxergar em plena adolescência, com o fervor e a excitação da minha experiência, notei que muita coisa havia mudado, e que todos esses elementos que me faziam recordar vivências, agora construíam uma nova situação, onde a adulta de alma infantil se divertia com nostalgia em todo aquele "Dejá vu".
O mais marcante de tudo foi ouvir "Serve the Servants" e lembrar com clareza de uma época onda nada me preocupava ou machucava, onde até mesmo o tédio era sinal de diversão, onde eu não tinha medo de ser autêntica. Aos quinze anos conheci dois jovens meramente por acaso, e o Nirvana era naquela época o meu fervor e a minha idolatria, abrandados hoje em dia. Um deles tinha o álbum In utero, e se ofereceu para gravá-lo pra mim, Foi tudo muito rápido. No dia seguinte eu estava em uma festa de rock de penetra e escondida dos meus pais, na companhia de meus mais novos amigos, e na mesma semana tive a oportunidade de ouvir várias vezes seguidas o álbum em questão, onde a primeira faixa é a mesma música que ouvi depois de muito tempo na noite passada.
Às vezes é bom voltar um pouco nossa tragetória e resgatar as coisas boas que tínhamos e se perderam. Temo que não tenha conseguido resgatá-las.